domingo, 24 de fevereiro de 2013

Mulheres que não gostam de cozinhar

Vejo cada vez mais mulheres que não gostam de cozinhar. Falo de mulheres, porque pelo estereótipo tradicional são elas quem cozinha, e as queixas que tenho ouvido vêm delas. Não apenas de mulheres jovens, mas também de mulheres que já vão nos seus 40's. Não deixo de ficar um bocadinho de triste sempre que oiço estes queixumes. Cozinhar é, para mim, uma actividade bonita, para ser feita com carinho e paciência, um acto de amor. Que há pouca coisa tão deliciosa neste mundo como um forno que brilha com uma linda peça de lombo de porco a assar lá dentro, um tacho que fervilha de molho de tomate, uma cozinha que cheira a tarte de maçã e canela. Mas acho que hoje um dia vivemos tão atarefadas, especialmente nós, as mulheres, tão espremidas entre os papéis de mãe, mulher de carreira, esposa e filha que nos sobra pouco tempo para aproveitar esse espaço tão bonito que é a cozinha (e eu escrevo isto sentada numa cozinha bonita, arejada e cheia de sol). E a facilidade do take-away tornou o acto de cozinhar em qualquer coisa de descartável, não é preciso andar à roda de tachos e panelas quando se pode ir buscar algo já feito. Mas sempre que penso nos take-away penso no que dizia sobre os frigorifícos uma das minhas bisavós, que na altura em que não havia coisas dessas comia-se tudo na época certa e tudo tinha gosto, agora as coisas compram-se, guardam-se no frigorífico e comem-se fora da época, nada tem sabor. É o que nos faz o take-away. Compra-se tudo já feito e nada tem um sabor nosso, personalizado. É tudo feito em massa e para ser consumido por massas.

Também eu, que gosto de cozinhar, muitas vezes não o faço com o carinho e atenção que deveria porque vivo "espremida" nesta vida de trabalhadora-estudante e dona de casa, porque não vivo numa casa minha onde me sinta à vontade para cozinhar, porque é uma cozinha partilhada, tachos e panelas partilhados. Mas longe de mim ir buscar qualquer coisa feita ao Continente ou ir comer fora todos os dias. É a tristeza desta vida moderna onde não existe tempo para nada e vivemos sobrecarregados com o peso de ter de fazer mil coisas diferentes. Realizamo-nos num lados, perdemos noutros.

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