domingo, 27 de julho de 2014

Confirma-se: sou louca

Numa época em que toda a gente se queixa do desemprego, em que só se fala da falta de trabalho, em que há milhares de desempregados inscritos nos centros de emprego e mais outros tantos que desistiram de sequer procurar trabalho, eu despedi-me. Despedi-me, sem direito a subsídio de desemprego, sem nada que me sustente a não ser as minhas poupanças, o dinheiro que todos os meses punha de parte para o mestrado, que agora vai ser usado para me aguentar durante estes próximos tempos. Despedi-me sem nada à minha espera e sem nada para me agarrar a não ser as minhas parcas economias. Despedi-me porque tenho não um sonho, mas uma ambição: trabalhar na minha área. Sempre fugi dos estágios não remunerados (acredito que o trabalho deve ser pago e também eu tenho contas para pagar todos os meses), mas depois de um ano de lengalengas e trabalhos de segunda percebi que tenho de dar o corpo à palmatória e mudar as minhas prioridades, por isso aceito este sacrifício de corpo e alma e entrego-me ao desafio, não sem medo mas cheia de vontade de mudar. Despedi-me porque estava num sítio que eu simplesmente detestava, despedi-me porque me senti enganada, porque o que me venderam nas entrevistas a que fui foram oportunidades de progressão na carreira, motivação contínua e bom ambiente de trabalho, não estas chefes tiranas, esta desmotivação crescente e esta falta de recursos gigantescos. Não, não me despedi porque sou preguiçosa nem porque quero ir de férias - considero-me uma rapariga profissionalmente ambiciosa, adoro trabalhar, adoro ter um trabalho que eu adore e não me revejo minimamente nessa imagem de pessoa desmazelada e procrastinadora que quer ter o mês de Agosto inteiro para ir jiboiar na praia, torrar ao Sol e beber copos na Caparica. Despedi-me porque sou ambiciosa e quero melhor para mim.

Sei que os próximos tempos vão ser difíceis - não estou habituada a estar em casa, a não ter uma rotina que implique levantar-me de manhã com um propósito tão concreto como esse de fazer o meu melhor pela minha empresa, não estou habituada a passar o dia todo a olhar para o telefone e à espera de entrevistas e a sentir-me nervosa e ansiosa enquanto espero por respostas e triste e incapaz quando as negas começam a chover. Mas acredito que irei ultrapassar tudo isto e, como sempre, tenho já um plano B alinhavado - para o caso de tudo correr mal.

De mim dizem muitas coisas. Dizem que tenho mau feitio, que sou demasiado sensível, que tenho imensa imaginação, toneladas de persistência. Há quem diga que sou louca. Eu começo a concordar.

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