quinta-feira, 4 de abril de 2013

Um país inteiro licenciado ou a inutilidade do canudo

Quando as pessoas das gerações acima de mim falam sobre a educação, é fácil ver a percepção errada que têm do valor de um curso universitário. Para os pais e para os avós (no meu caso, sobretudo para os avós), uma licenciatura é uma porta aberta para uma vida que eles não tiveram mas que desejaram ter. É um passe directo para um emprego estável, das 9h às 17h, com boa remuneração e perspectivas de promoção e evolução fácil na carreira. Ter na sua esfera pessoal gente com formação superior é, para quem já passou a barreira dos 40's, um orgulho digno de ser anunciado a quem queira ouvir.

Noutros tempos, ter um curso superior era raro, era privilégio exclusivo dos mais carolas, que com boas notas conseguiam bolsas para estudar (caso da minha mãe) ou dos mais ricos, era um cartão de visita que assegurava uma entrada feliz e bem sucedida no mercado de trabalho. Hoje, já não o é. Licenciados há os ao pontapé, e as pessoas licenciam-se nas mais variadíssimas coisas. Uma pessoa entra na faculdade encantada com as mil portas que pensa estar a abrir, e logo se desencanta quando percebe que licenciada como ela há mais uns poucos milhares por ano, que é possível tirar-se um curso e acabar-se tão desempregado como os outros que não estudaram, tão mal pago como as empregadas de limpeza que têm o 9º ano tirado nas Novas Oportunidades, tão desiludido e frustrado como todos os outros.

Para a geração dos nossos avós, um canudo é enorme prova de valor pessoal, de mérito, de inteligência, de estatuto. A verdade das universidades é que toda a gente entra lá e qualquer pessoa pode ser licenciada, basta ter dinheiro. Mesmo que não se entre no curso que se gosta entra-se noutro qualquer e quando se acaba é se tão licenciado como todos os outros, quer se tenha estudado Medicina ou História da Arte Medieval. 

Quando os meus avós me dizem que a minha prioridade é estudar, que devo esforçar-me por ter boas notas que isso só me vai trazer benefícios, que os estudos são o mais importante da vida, da minha vida, eu abano a cabeça condescendentemente, lembro-me de todas as pessoas que conheço que tiraram o meu curso ou outros e que acabaram com boas notas, que foram a acções de formação, que empreenderam projectos e que acabaram não melhor que os seus pais que mal o ensino obrigatório têm, e digo que sim, pois claro, os estudos são o mais importante. A fingir que acredito mesmo que a minha licenciatura e as minhas boas notas vão mesmo ser a porta para algum sítio bom.

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