terça-feira, 4 de junho de 2013

"Vamos saltar para a parte em que tiramos macacos do nariz um do outro"

Eu sou daquelas pessoas que acha que há coisas que não devem nunca ser feitas em frente à cara metade. Nunca, em tempo algum, eu acho admissível tirar macacos do nariz, arrotar de boca aberta ou soltar gases indevidos em frente ao parceiro. Nem que vivam juntos há mil anos, nem que namorem uma vida inteira, são coisas que não se fazem. Não é uma questão de boas maneiras, porque há muito boa gente que é bem educada na rua e não arrota nem fala de boca cheia em público, mas a privacidade do lar é a privacidade do lar, e na privacidade do lar faz-se de tudo desde que seja legalmente aceite e consentido por toda a gente que habita o estaminé em questão. É uma questão tão simples como esta: a necessidade de manter o desejo. O evitamento das coisas nojentas é, para mim, essencial à manutenção da chama acesa. Eu não consigo ser a mesma depois de ver o meu namorado descuidar-se na cama com a maior das naturalidades. Qualquer vontade de lhe saltar para a espinha morre logo ali. Idem com actividades como tirar macacos do nariz ou arrotar descaradamente. Também acho uma pessoa trinta mil vezes menos sexy e atraente quando ela me relata as suas actividades ligadas à casa de banho (é, as descrições de excreções e secreções humanas nojentas têm este efeito em mim). São coisas que activam automaticamente aquela parte do meu cérebro que lida com tudo o que é relacionado com picuíces. Só que eu não acho picuinhas, acho legítimo. "Mas são coisas naturais do corpo humano", dirão vocês. E se há duas pessoas já namoram há anos e quiçá até vivem juntas, é normal que chegue uma altura em que já não dá pra conter mais, a nossa cara metade tem de saber que sofremos de crises de flatulência sempre que comemos bacalhau à Zé do Pipo. Não, não tem, digo eu. E digo isto porque existe uma divisão da casa chamada casa de banho, onde à porta fechada podem tomar lugar toda uma série de actividades extraordinárias cuja existência pode perfeitamente ser omitida do resto do mundo, e porque as relações (pelo menos as saudáveis, aquelas de que eu gosto) garantem uma certa privacidade individual que garante que há coisas que podem continuar escondidas do nosso parceiro. E sim, esconder o que se faz na casa de banho parece-me legítimo e até recomendável - desde que o que se esteja a esconder não sejam os encontros com a amante que têm lugar entre a banheira e o bidé.

Posto isto, tenho a dizer que para mim nunca há de chegar a altura em que tiramos macacos do nariz à frente um do outro, e que é possível ter uma relação longa, estável e feliz com alguém que desconhece os ataques de gases que temos quando comemos açorda de bacalhau. E que as relações e a vida sexual em particular só têm a ganhar com estas inocentes omissões.

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